segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Pequena criaturinha

   Certo dia estava eu andando pensativo pelas ruas do centro de minha cidade, quando ao adentrar em uma delas, pude ter uma visão seguido de um lampejo da minha consciência, da qual me fez parar e ficar a contemplá-la.
              Eu vi um cachorro ainda filhote deitado no chão, com um olhar fixo para quem entrava naquela rua pelo lado do sol poente. Não era qualquer coisa que podia ser observada naqueles doces e frágeis olhos castanhos claros. Você poderia ver algo como uma inocência irredutível, um brilho de esperança, embora eu não soubesse em que, mas observava-se muito facilmente essa luz estelar neste pequenino céu peludo.
              Na verdade, percebi que o olhar não era especificamente para a rua ou para quem nela entrava. Era mais profundo. Era um olhar que queria sobrepor distâncias, atravessar barreiras intransponíveis, que buscava ver um mundo que jamais nem eu e nem muito menos qualquer outro “humano” jamais conseguiu ver. “Um mundo dentro de outro mundo”. Isso é algo mais poético do que a maioria de nós vemos: “nosso mundo dentro de outro mundo”. Sim, realmente você me fez pensar, pequenina criatura. Obrigado.
              Como pude aprender tanto com um pequenino animal? Como poderei eu afirmar que aprendi algo com um ser demasiado irracional pela grande maioria de nós? Na verdade, acho que somos mais irracionais por sempre querer ver o mundo da maneira como queremos. E como ele realmente é? Como posso percebê-lo realmente como o é sem que seja por meus sentidos de certo modo imperfeitos?
             Não sei, mas percebi que esta criaturinha com o seu olhar me atingiu mais profundo do que qualquer palavra. Neste momento, o meu comportamento foi de uma profunda euforia agregada a um puro e imenso agradecimento.
            Resolvi me aproximar do animalzinho e acariciar-lhe, mas que estranho esse olhar tão fixo! Porque ele não demonstra nenhuma reação?
            Percebi seu corpo enrijecido e estático. Fechei os olhos e respirei fundo. Não só parece, como também é estranho. Aprendemos muito com a vida, mas ainda muito mais com a morte.                                                                                                                                                                                             

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