domingo, 21 de novembro de 2010

O poeta e o andarilho

- Tenho percebido que estais sempre a observar o horizonte todos os dias por longas e intermitentes horas sentado sob esta pedra. O que estais a procurar com esses olhos errantes nesta realidade demasiadamente incerta? Perguntou a Andarilho ao Poeta.

O Poeta respondeu:         
- Estou cansado de ser um humano. Esse cansaço se reflete na minha poesia. À medida que escrevo, sinto o quão longe ela vai, atingindo uma tão vasta distância, que me sinto bem ao ver que nunca sou o mesmo a cada poema criado. Por isso, cada vez que olho para mim mesmo, e percebo o que sou, sinto uma profunda tristeza por me ver como uma criatura presa a superfície e limitado por seu ego facilmente despedaçado.
- Como alguém tão sábio como você conseguiria não ser mais um humano? Pretende abdicar de sua própria existência? Confuso, o Andarilho pergunta ao Poeta com os ouvidos bastante apurados para achar sem dificuldade alguma, o real entendimento de sua resposta.
- Eu gostaria de abrir as minhas asas como fazem os pássaros para atingir os céus e acariciar o ar com cada bater de cada uma delas; eu gostaria possuir fortes braços para que pudesse agarrar os meus sonhos e nunca mais solta-los da mesma maneira como o escorpião ao segurar a sua presa; de poder possuir a fidelidade e o amor desinteressado por todas as coisas de valor único, da mesma forma que um cão ao seu dono; de possuir o desapego dos gatos para evitar o sofrimento, mas a docilidade da preguiça ao se prender em locais firmes e seguros; quero poder ver a beleza das flores em sua maneira mais pura assim como as abelhas, mas também gritar para a lua que embora longe, sinto que ela faz parte de mim ao iluminar meu caminho durante a noite para que eu nunca perda o meu propósito, assim como fazem os lobos. Sei que é tolice abdicar da minha vida, mas sinto-me melhor à medida que nego para mim mesmo, a minha humanidade.
-Escutei tudo que ma falaste em alto e bom tom. Mas ainda que queira ser como me dissestes anteriormente, algo você nunca poderá mudar. A sua natureza! Afinal, somos o que dizemos pra si mesmo, mas não podemos fugir daquilo que está conosco desde o nascimento, e que nos seguirá até o nosso túmulo. À medida que nega querer ser um humano, mais humano se tonas. Afinal, é da nossa natureza nunca estarmos satisfeitos com o que somos. Da mesma maneira que o é a todas as criaturas. Veja bem, é belo ver um pássaro ganhar o céu com suas asas, mas algo nele o prende a superfície. Algo que você tanto teme. Cansada de ser uma lagarta, a figura de uma borboleta vem posteriormente. O que seria da lua, se somente o sol dominasse o firmamento? Acredito que deveis olhar um pouco mais pra dentro de si e procurar achar a si mesmo, como o jovem Arthur ao achar a espada fincada numa pedra que o fez abrir seu coração e o fez ser um grande e nobre Rei. Disse o Andarilho.

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